sábado, 8 de dezembro de 2007

Barcelona - Um rascunho perdido

" Yo escuchaba chapotear en el barco los pies decalzos y presentía los rostros anochecidos de hambre. Mi corazón fue un péndolo entre ella y la calle.
Yo no sé con qué fuerza me libré de sus ojos, me zafé de sus brazos.
Ella quedó nublando de lágrimas su angustia tras de la lluvia y el cristal, pero incapaz para gritarme: ¡ Espérame, yo me marcho contigo!"
Miguel Otero Silva
Cheguei em Barcelona dia 6 de dezembro de 2007 na " ansia de transplantar horizontes"! Aqui me encontro sem compreender o que me impulsionou a cruzar o atlantico. Que espírito é esse que nunca se aquieta?Desembarquei e peguei o aerobus até a plaça catalunya junto com um casal de brasileiros e seu filho já crescido. Barcelona ferve e percebo distintos idiomas na famosa plaça, parece que o mundo todo marcou um encontro nesta cidade; punks, senhoras e senhores, pretos , brancos e coloridos... estão todos aqui! Barcelona era o que eu pensava e muito mais! Minha primeira impressao foi de deslumbramento, talvez por estar conhecendo a europa recem agora... com 38 nas costas! A fachada dos prédios antigos da Gran via de los cortes catalanes foi meu primeiro impacto. Quando se sai de um país novo como o Brasil não se tem noçao de quantos secúlos podem nos comtemplar do alto de prédios europeus. Meu primeiro dia foi proveitoso , pois comecei minha exploraçao pelas ruelas medievais de el born, e no meio destas surge, quase como um susto, uma magnifica igreja gótica chamada Santa maria del mar, esplendorosa e simples ao mesmo tempo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Poder


Demorei a entender os caminhos que levam ao poder e os atalhos que somos tentados a seguir quando a vida nos parece dura. O eufemismo sobrepõe a realidade quando se trata de definir os jogos de ascensão que a imensa maioria se submete a fim de chegar ao poder. Ninguém reconhece em si mesmo a luta compulsiva travada para comandar, influenciar, impor sua vontade no meio em que vive, seja ele uma grande entidade ou um diminuto espaço que consideramos nosso por merecimento. Olhem para as suas “boas intenções” e lá terá uma fagulha de desejo de poder. O ego sempre dá as cartas quando é confrontado com princípios, ele é protegido pela recompensa da fama e da fortuna. Ninguém suporta o ostracismo da honestidade, o ato correto é sempre silencioso! São os poderosos homens públicos que construíram a história, déspotas e manipuladores se perpetuaram no poder e são eternizados com nomes de praças públicas, avenidas, colégios e Universidades. E assim caminha a humanidade...A longa estrada percorrida pelos justos é cercada por lama e dinheiro fácil, o reconhecimento tarda e às vezes falha deixando o homem reto com dúvidas amplificadas; Por que ainda hoje os políticos possuem status? Por que os mentirosos são homenageados? Por que admiramos “ celebridades”? Por que corruptos ocupam cargos de liderança? Os fins justificam os meios?

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Payada - Jayme Caetano Braun


...Se a História não os condena, a mancha nunca se apaga!A opressão jamais indaga na sua ambição mesquinha.Era meu tudo o que tinha, era meu tudo o que havia,e eu morri porque dizia que aquela terra era minha


Mas o eterno não morre, porque permaneço vivo...No lampejo primitivo de cada fato que ocorre o meu sangue rubro corre na velha raça gaudéria, corcoveando em cada artéria pela miscigenação, na bárbara transfusão com os andarengos da Ibéria...


Fui sempre aquilo que sou, sou sempre aquilo que fui, porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou...Sou o brasedo que ficou e aceso permaneceu, sou o gaúcho que cresceu junto aos fortins de combate e já estava tomando mate quando a pátria amanheceu!


E assim, crescendo ao relento, criado longe do pai, junto ao mar doce - o Uruguai -, o rio do meu nascimento, soldado sem regimento no quartel da imensidade...Um dia me deu vontade, deixei crescer toda a crina e me amasiei com uma china que chamei de Liberdade!



Esta é uma parte do poema PAYADA de JAYME CAETANO BRAUN o maior poeta que o Rio Grande do Sul conheceu, este poema fala da formação do fronteiro, o GAÚCHO autêntico que sofreu com as invasões e guerras mas que " aceso permaneceu"!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A Casa Branca



Dizem os sábios que nunca retornamos ao mesmo lugar, nunca cruzamos o mesmo rio e jamais seremos hoje o que fomos ontem, mas as memórias alimentam minha alma... Então fujo em pensamento para os campos da fronteira, lá longe, onde se encontra a Casa branca da minha infância. Recordo dos tempos em que observei atentamente o que me cercava na vida simples da estância, lembro que a cozinha era domínio feminino, um ventre acolhendo os de casa e os de fora. Ali se encontrava o coração e, é claro, o estômago da Casa branca. Panelas penduradas em cima do fogão preto, uma braçada de lenha no canto e a mesa de madeira comprida que era quase um improviso. O crepitar da lenha e o ronco da panela de ferro faziam aromas ganharem caminhos, e todos se achegavam de mansinho como quem pede licença e se desculpa pelo instinto. Quando o povo sentava-se à mesa grande o cheiro precedia o gosto e o silêncio era rompido por murmúrios de satisfação. A comida era farta e bem temperada, e bota manjerona, salsa, cebola, e alho nisso! Lembranças são associações estimuladas pelos sentidos e de tudo que a criança vê, ouve, toca, cheira e prova o gosto, resta apenas aquilo que lhe fascina. Até hoje procuro a receita de tamanha harmonia servida em pratos de simplicidade, mas meus sentidos envelheceram com o tempo e só tenho essas recordações, limpas e claras como uma casa branca em minha mente.



Escrevi este texto para a revista de um amigo. A publicação se chamava SABOR. A Casa Branca a que me refiro é a Estância de uma tia que fica no município de Alegrete, este local foi para mim uma referência de recordações e imagens no coração do pampa Gaúcho.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O que você vai ser quando você crescer?


Algumas vezes escuto pais dizendo que ter filhos é a coisa mais importante na vida; a noção de prioridade modifica-se, o centro do mundo já não é mais o próprio umbigo, os sacrifícios pela prole revelam o instinto primitivo de proteção em todos os níveis. O ser se multiplica; é um pedaço de nós que engatinha, herdando características físicas e também psicológicas. Ainda não tenho filhos, portanto, esse é um terreno que desconheço. Apenas estudo um mapa das relações que se desenvolvem entre pais e filhos, graças à minha experiência como professor de iniciação esportiva e ao meu distanciamento para observar o que minha própria família esperava de mim. Não se discute que o cuidado físico é indispensável para o desenvolvimento saudável dos pequeninos, todos precisam de atenção e vigilância. O velho problema é quando os “zelosos” pais tem a pretensão de saber o que é “melhor” para seus rebentos. Passada a fase de proteção física iniciam os estímulos relativos a “quem” os pais acham que seu filho deveria ser. Invariavelmente, os filhos não concordam com os valores dos pais e nem com o caminho que lhes é imposto, como se fosse um roteiro para o sucesso. Já dizia Krishnamurti: “... Em geral não amamos nossos filhos; temos ambições com referência a eles”. E Howard Gardner também advertiu: “Muitos de nós somos, em geral, narcisistas: ou esperamos que nossos filhos façam apenas o que fizemos ou insistimos em que façam o que não pudemos fazer. Esses dois caminhos são destrutivos, pois significam a substituição da vontade da criança em crescimento pela vontade dos pais”. Escolher o caminho dos outros é optar pela frustração e muitas crianças são esmagadas pelo suposto “discernimento” dos pais e da sociedade como um todo. Professores, pais, avós, parentes, sabem o que é melhor para a criança, só que esquecem de perguntar para a protagonista onde ela gostaria de atuar. O desenvolvimento das aptidões de uma criança deveria basear-se nos interesses da mesma. Como diz no livro “O espírito criativo”: “... Os pais precisam expor seus filhos a um amplo espectro de materiais e experiências a fim de que suas tendências naturais possam aflorar, seja em que área for”.
A idéia é simples e até lógica, mas em um mundo pragmático e competitivo é inevitável que a vontade de uma criança se dobre aos interesses diversos. O pequeno, inseguro, hesita em dar continuidade ao que lhe dá prazer, pois não tem independência intelectual nem econômica e, além do mais, herda alguns resquícios de valores objetivos. Para isto Krishnamurti nos abre os olhos: “O que precisamos compreender é que não somos apenas condicionados pelo ambiente, mas que somos o ambiente, que não estamos separados dele. Nossos pensamentos e reações são condicionados pelos valores que a sociedade da qual somos uma parte, nos impôs”.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Reflexão das reflexões do saber esportivo


As reflexões sobre a fragmentação do saber esportivo espelham a divisão do homem contemporâneo e sua ansiedade por transformações radicais. Esta inquietação resulta da desumanização do mundo ocidental. A epidemia consumista, tecnicista e mecanicista que tomou conta de todos os níveis da sociedade consegue gerar um estado de insegurança e perplexidade na mente ocidental. O homem é escravo de sua própria criação. Os valores “petrificados” e inflexíveis, que são indispensáveis para o desenvolvimento tecnológico, acabam criando fontes inesgotáveis de insatisfação e injustiça. Estamos cada vez mais preocupados com a realização pessoal, mas esta é condicionada pela especialização e pela produtividade. Parece-me irônico que um mundo construído sobre o chão frio da objetividade e do pragmatismo venha solicitar solidariedade e trabalho em equipe, afinal de contas, o individualismo forjou todas as instituições que abusam da retórica do humanismo. No caso do esporte e de seus frutos supostamente saudáveis, estamos diante de uma reprodução dos valores “petrificados”, onde a competitividade se estabelece como uma metáfora da luta insana que leva o homem ao delírio da superioridade. O esporte é e sempre foi a oportunidade da “guerra permitida”, e sendo assim ele será uma eterna propaganda dos valores vigentes.

Texto escrito originalmente no curso de especialização em Administração esportiva, em cima da leitura de REFLEXÕES SOBRE A FRAGMENTAÇÃO DO SABER ESPORTIVO , de João Paulo S. Medina. Provavelmente em 2003!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Bússola


Navega solitário aquele que não se deixa tragar pelas águas sujas da cultura humana. Não podes chegar à terra firme da originalidade até te encontrares definitivamente espontâneo, como a criança selvagem que deixastes em algum porto seguro.É belo o canto da sereia que te joga contra a rocha... Nossos motivos são traiçoeiros e ambiciosos. Destroça tua Nau, mas não afoga teu coração no oceano de ilusões, pois ele é tua bússola.

Labirinto



Sou o humano indeciso, envergonhado,
escondido da vida...Sou a mente poluída!
Aquilo que aqui não se encontra, estará
adiante... Como felicidade pronta?
Quem puder, por favor, me conta!
O futuro é esperança ou desespero?
Minha ânsia é só dinheiro?



“O labirinto é o símbolo mais evidente do estar perdido.
Sinto-me perdido tantas vezes; (algumas vezes) gratamente
perdido (...); outras desoladamente perdido.”

Jorge Luis Borges







domingo, 19 de agosto de 2007

Mente Zen, mente de principiante.


Na mente do principiante não há pensamentos do tipo "eu alcancei algo". Todos os pensamentos egocentrados limitam a vastidão da mente. Quando não alimentamos pensamento nenhum de conquista, nem pensamentos egocentrados, somos verdadeiros principiantes e podemos então aprender alguma coisa de fato. A mente do principiante é mente de compaixão. Quando nossa mente é compassiva, torna-se ilimitada. O mestre Dogen, fundador da nossa escola, sempre enfatizou a importância de preservar nossa mente original ilimitada. Com ela somos verdadeiros conosco, estamos em comunhão com todos os seres e podemos, de fato, praticar.Assim, a coisa mais importante é manter sua "mente de principiante". Não há necessidade de ter uma profunda compreensão do Zen. Mesmo que você leia muita literatura Zen, deve ler cada frase com uma mente virgem. Nunca deve dizer: "Eu sei o que é Zen' ou "eu atingi a iluminação". O real segredo das artes também é esse: ser sempre um principiante. Seja muito cuidadoso nesta questão. Se começar a praticar zazen, você começará a valorizar sua mente de principiante. Este é o segredo da prática do Zen.
Shunryu Suzuki

Qual é o esporte que salva?


"O esporte possui altos valores de integração social. hoje a sociedade está inundada de esporte, entretanto, são ignorados muitos de seus valores pedagógicos. O esporte idoneamente desenvolvido e aplicado ao mundo atual, é humanizador. Contudo existe muito a purificar. Não é ouro tudo o que reluz."
J.M Cagigal
Sempre que uma criança se inicia no esporte, seus pais, invariavelmente, visualizam uma oportunidade, uma luz no fim do túnel. É a esperança de que seus filhos possam conviver em um ambiente saudável, distante dos “Quatro cavaleiros do apocalipse”: o sedentarismo, as más companhias, a violência e as drogas. Estariam certos estes pais zelosos? O esporte é um templo dourado onde a promessa de salvação será cumprida? Sim e não!
É inegável que a prática de atividade física é benéfica e auxilia em vários aspectos, mas existem inúmeros contextos esportivos. Quando mencionamos esporte, vem à mente a idéia do Campeão, aquele que conta uma história edificante de superação e objetivos atingidos, um sonho em ouro, prata ou bronze. É o modelo pronto, o desporto de competição que ocupa generosos espaços na mídia e na nossa mentalidade prática e competitiva. Cuidado! Este tipo de esporte de rendimento é uma reprodução fiel dos valores de nossa sociedade doentia, ou seja, ele é excludente, e, muitas vezes – no caso de atletas de alto nível - prejudica o corpo. Portanto, nem saudável é! Mas então qual é a saída? Onde os pais depositarão a esperança do futuro de sua prole? Na forma como o esporte é conduzido, na filosofia do trabalho desenvolvido. O que realmente importa não é a beleza do vaso, ou seu tamanho... O relevante é saber se esse vaso contém terra e se a semente foi plantada, ou se está vazio, servindo apenas de adorno. A transmissão de valores positivos como a socialização, a participação indiscriminada de todos, o reforço da auto-estima, os incentivos à criatividade e o desenvolvimento da empatia deveriam ser os meios e também o fim de um esporte que se pretende inclusivo e salvador; caso contrário, muitos jovens frustrados ficarão pelo caminho, suscetíveis às mazelas que sua própria sociedade produz.

Krishnamurti e o Sucesso.


" Enquanto o sucesso for o nosso alvo, não nos livraremos do temor, porque o desejo de bom êxito gera inevitavelmente o medo de insucesso. Eis por que não devemos ensinar os jovens a idolatrar o sucesso. A maioria das pessoas procura o sucesso de qualquer forma, seja no campo de tênis, seja no mundo comercial, seja na política. Todos queremos estar por cima e este desejo cria constante conflito dentro de nós mesmos e com o nosso próximo; leva à competição, à inveja, à animosidade e , por último, à guerra."
J. Krishnamurti

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O homem velho


“...Neste fogo onde me aqueço remôo as coisas que penso, repasso o que tenho feito para ver o que mereço!
Quando chegar meu inverno que me vem branqueando o cerro, vai me encontrar venta aberta de coração estreleiro!”

Veterano -1980
Antonio Augusto Ferreira e Everton dos Anjos Ferreira

A doença é sombra da morte... que espreita!Os dias chegam ao fim, o tempo é areia da ampulheta e esta não mais se vira... as ilusões se descortinam. O velho homem pergunta a si mesmo: Quem ele teria sido? Riqueza ou pobreza não faz mais sentido na estrada que finda, atos e palavras são a herança deixada sobre a terra.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O Rei de mim


O que queres tu, ó triste rei sem súditos?
Porque não abandonas teu trono imaginário?
Os pinheiros são mais imponentes que toda
tua corte e nunca te reverenciarão;
o inverno não te inveja, tampouco te pede
raios de sol.
Por que não te curvas e espera
que tua coroa caia como as folhas do outono!?
Triste homem és tu, esmorecendo diante dos dias,
em busca do espírito guerreiro que deixaste em
um reino distante.
Observo o crepúsculo rubro que zomba
de minha pretensão mortal de alcançar
permanência. O mar me fita com olhos
ameaçadores sobre vagas dançantes.
O rei de mim é o usurpador do trono de minha alma.
Ele veio ao mundo como uma sombra que atormenta
as cabeças coroadas. Todas as batalhas externas
serão em vão, pois o rei de mim hei de ser eu mesmo!

A coluna


A coluna
jornalística
deveria
assemelhar-se
à estrutura
óssea que
nos deixa
em pé.
A coluna
é o ponto
de sustentação,
por isso,
deveria ter
uma postura
correta,
contendo
palavras
e pensamentos
que deixem
ereto e altivo
seu autor.
Fazendo uma
radiografia dos
Colunistas de ZH,
constatei uma
escoliose de
idéias
acentuadas
para a direita.
Ter coluna é
ter poder!
Então, é
imprescindível
que as
extensões e
reflexões não
se dobrem aos
interesses diversos.
Enviei uma carta para ZH observando a parcialidade dos colunistas
deste jornal. A carta foi publicada no dia 15 de maio de 1999. Logo
abaixo da minha carta um outro leitor reclamava que ZH era a " voz do PT".
Achei estranho,pois todos conhecem a antipatia que o grupo RBS tem por
este partido.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O Vulcão Adormecido - Na Natureza Selvagem

A marginalidade rega minha genialidade,a loucura me procura e dela brota poesia negra com matizes acinzentados,palavras que buscam altares de deuses sombrios me levam acorrentado ao encontro dos chamados da floresta, de lá posso observar as labaredas dançantes que nascem do solo fértil da terra, úmida de súplicas por ela mesma.Paro um momento e espero pelo vento que eleva meu espírito para longe da realidade concreta,agora sou quem mais me faço, um ser etéreo e desconectado,levado pela inspiração de um vulcão ativo,sou sugado pela terra para retornar como um pássaro.
Escrevi isto em homenagem a um grande amigo, alguém que nunca conheci, mas compreendi com toda a minha alma. Quem não teve o impulso de um dia largar a suposta sensação de segurança e correr mundo? . “Os anseios que me afligem de transplantar horizontes” diria Caetano Braum.Não estou falando de tirar fotografias em prédios e monumentos antigos e depois se vangloriar para amigos patéticos. Refiro-me à viagem que todo homem e mulher deveria fazer na vida, a jornada espiritual, sair em busca de nada, porém a espera de tudo! Quem de nós ainda atende o “chamado da floresta?” Chris McCandless atendeu! Um pequeno resumo do livro “Na Natureza Selvagem” que me inspirou a escrever “O vulcão adormecido”: “Um jovem de uma família rica americana que resolve largar todo seu conforto, rasgar seu brilhante diploma universitário, abrir mão de sua fortuna, para partir em busca de sua verdadeira essência: sair pelo mundo em busca de novos desafios e lugares desconhecidos. Depois de mudar até de nome, Chris desaparece pelas estradas do país e somente dois anos e muitas aventuras depois, é encontrado morto, sozinho, dentro de um ônibus abandonado em um lugar totalmente inóspito no estado do Alasca”.

Um verso


“Quando abraça a sua guitarra e desempenha seu solo,
O guitarrista parece a mãe com o filho no colo,
Quando ele fecha os olhos nos prodígios de seu dom,
Viaja pra dentro de si...Navega em ondas de som... “.


Guitarreiro para um guitarrista, de Marco Aurélio Vasconcelos,
em uma Califórnia de Uruguaiana na década de 80.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Infantaria Colorada

Eles marcham a passos largos, arrecadando grupos que fluem por vias secundárias. Ouvem-se, ao longe, cânticos de guerra ganhando vozes a cada esquina; fanáticos cobrem-se de suas cores e estas prolongam-se em estandartes de taquara imensa. Lentamente chegam os ônibus com corpos pendurados, marcando o compasso em sua lataria. É chegada a hora! Carros anunciam o momento, soando buzinas excitadas, enquanto os mercadores incentivam o consumo, produzindo chamados criativos. Os cambistas alardeiam a escassez de ingressos e o tamanho da fila. Resta pouco tempo para o combate e a confusão lá fora deixa a todos aflitos, acelerando passos e corações. Nós somos homens de um tempo sem medo, e aqui nos encontramos prá fazer história. Aos que ficam em casa desejamos tranqüilidade, mas a nossa infantaria anseia sair da vida e ecoar na eternidade. Os torcedores de alma guerreira, indiferentes às vitórias e às derrotas, aqui estão frente à batalha do Rio da Prata, pois representar a nação alvi-rubra significa, para nós, levar milhares de corações pendurados em nossos estandartes, corações emocionados que talvez não suportem o calor da luta. Avançamos, destemidamente, rumo a mística Bombonera, com a certeza de que o tamanho do inimigo valoriza, ainda mais, nossa façanha, e que esta sirva de exemplo a toda terra, pois nunca tantos ficaram devendo tanto a tão poucos!

Um outro mistério...Seu corpo, esta casa onde você mora


“Ser é nascer continuamente!” Esta afirmação revela a possibilidade ilimitada do ser humano em superar-se, buscando a liberdade mental do passado entranhado em suas vivências conscientes e inconscientes. As “paredes” que ouviram de tudo e nada esqueceram revelam nossa realidade interior, que espelha insegurança, rigidez e submissão infantil perante os repressores de nossa espontaneidade. O corpo tornou-se tenso porque nele não estamos. O homem "civilizado" estabelecendo a dicotomia sobrecarregou a mente de maneira impiedosa. Aos que lucidamente se consideram escravos e cúmplices ainda resta uma esperança de liberdade, pois estes reconhecem que também são opressores de corpos adestrados. Essa casa onde você mora é um mistério que se transforma a cada dia. Conhecer nossa mente e nosso coração é dar abrigo a todo tipo de sentimento, sem reprimi-lo nem interpretá-lo de maneira errônea, afinal eles são viajantes que nunca fixam residência. "Inteligência é a qualidade da testemunha; ela observa a mente e dá direção à mente" - Rajneesh. Somente desta maneira é que antagonismos, tensões e conflitos deixarão nosso lar para que as luzes entrem pelas janelas dos sentidos, tornando visível a eterna unidade. Então, poderemos habitar em nossa casa até o fim dos dias.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Mistério


Meu mistério é transformar-me a cada dia sem perder de vista aquilo que fui, e que muitas vezes me incomoda. Estarei preso às realidades vivenciadas? Ou minha liberdade é tamanha a ponto de abandonar quem sou para viver em paz com aquilo que serei, ao largo do que passou evidente e também desapercebido? Duvido que um dia eu tenha respostas, mas minhas perguntas não cessarão...São grilhões que me prendem ao sofrimento de não me conhecer por completo!
"Quem sou eu?Quem é cada um de nós?
Talvez o saibamos algum dia.Talvez, não.
Nesse meio tempo, entretanto, como dizia
Santo Agostinho, minha alma arde, porque
quero saber."
Jorge Luis Borges

De Volta ao Passado?


Quando nos aproximamos dos jogos olímpicos estamos revendo um filme que assistimos de quatro em quatro anos. A mídia divulga a trajetória de nossos heróis desconhecidos, e toda a dificuldade que estes encontraram para almejar, quem sabe, uma medalha olímpica. A infância pobre, a falta de condições de treinamento, o desamparo nos momentos difíceis, e o choro dos amigos e parentes - mas tudo acaba bem, e o fervor cívico nos leva a acreditar que este personagem é protagonista. Certo? Errado! O esporte no Brasil produz uma imensa maioria de coadjuvantes, e uns poucos protagonistas no cenário internacional. Neste filme trocam-se os artistas, mas o enredo é o mesmo. O percurso de nossos atletas olímpicos rumo ao pódium continuará cambaleante e persistente, como a imagem daquela atleta torta que entrou no estádio, quase sem forças para caminhar. As dificuldades encontradas pelos esportistas estão inseridas num contexto de provações que todo brasileiro vivencia em sua rotina silenciosa, e somente ele, cidadão, consegue ver. O descaso esportivo é irmão de outros tantos. Mas a cada quatro anos desejamos que medalhas caiam do céu. Existem, em nosso país, milhões de talentos desperdiçados; o benefício do esporte não lhes é concedido, e quando o é, logo lhes é roubado pela falta de acompanhamento e incentivo. A escassez de projetos esportivos de longo prazo - salvo alguns bem intencionados, mas com poucos recursos -, dificulta a alteração do roteiro deste filme de drama e aventura em terras distantes. O esporte de alto rendimento necessita de fortes alicerces, e esta base é negligenciada pelo estado, pela iniciativa privada, e também pelos meios de comunicação, que divulgam apenas o triunfo isolado. Cabe aos meios de comunicação despertar o interesse do público para as competições, onde são forjados nossos futuros campeões, uma espécie de trailer, a expectativa de um grande sucesso que está para estrear. Só assim a iniciativa privada investirá recursos, quando a audiência estiver garantida. Ao estado compete a responsabilidade de garantir o acesso à educação, que é irmã gêmea da prática esportiva - as chances de inclusão social pelo esporte são imensas e prazerosas. Porém, a massificação e divulgação não são suficientes. As autoridades esportivas, que muitas vezes transformam suas federações e confederações em feudos ou dinastias, deveriam, pragmaticamente, copiar modelos de estrutura profissional, e não apenas importarem shows de pirotecnia. Tudo isto já está sendo feito? Veremos se o final do filme foi alterado, caso contrário, estaremos retrocedendo e revivendo o passado!

Enviei este texto para um SITE chamado PAUTA SOCIAL, ele foi colocado no SITE e a página do juizado da infância e da juventude do estado de Goiás também divulgou o texto. Minha intenção na época era falar sobre o esporte no Brasil e as suas potencialidades. Faz algum tempo. Terminado os jogos do Rio 2007 achei importante reutilizar o texto e refletir se as coisas mudaram ou se continuam como anteriormente.

domingo, 8 de julho de 2007

Amizade


Uma chuva fina cai, incessantemente, e o frio aproxima-se. O barulho do gerador do hospital vizinho segue a constância da chuva, e o ruído perturbador só é realmente notado na sua ausência. Nos acostumamos com o barulho e somente quando o silêncio acontece percebemos a sua importância. E, assim como a quietude que vem de vez em quando para trazer tranqüilidade e satisfação, surgem também os amigos distantes. Estou esperando um amigo que não vejo há bastante tempo, daqueles que ligam do nada e saltam do passado trazendo lembranças agradáveis de um tempo que não foi perdido. Tenho orgulho de ser lembrado por amigos de longe e que, repentinamente, resolvem procurar-me para tomar um mate e conversar sobre passado, presente e futuro. O surgimento destas pessoas significa que criamos vínculos fortes e verdadeiros, uma espécie de compreensão e entendimento que as estradas não levam para longe. A amizade foi celebrada por vários filósofos como Epicuro, Ralph Waldo Emerson e Lin Yutang, entre outros. Na verdade estes homens perceberam a relevância de compartilhar emoções e sentimentos para suportar a consciência de nossa própria finitude. Ter amigos representa cruzar o rio da vida com auxílio e compaixão, e nada é mais desolador do que se perceber solitário ao aproximar-se da margem desconhecida. A amizade por conveniência, baseada em interesses, é ilusória, e se altera conforme a correnteza. Infelizmente, é este tipo de "amizade" que a maioria de nós experimenta em tempos de "artigos descartáveis". Portanto, justifica-se minha alegria ao reencontrar um amigo para conversar sobre trivialidades e "profundidades", pois nele percebo algumas coisas com as quais me identifico! Irresponsáveis e responsáveis, zelosos e desleixados, tímidos e exibidos, falantes ou calados... que venham a mim os amigos com suas "doces imperfeições" para tomar um mate e conversar despreocupadamente!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Nascimento e Morte


Se o nascimento é doloroso, confesso que não lembro. Mas, hoje, sinto um misto de angústia e excitação; angústia por estar "nascendo" para este "tal de blog", e excitação pelas possibilidades de poder escrever a respeito do que bem entender. Tantas coisas passam pela minha mente, um universo de pensamentos, sendo difícil organizar o que vale a pena ser escrito. Não sou o primeiro e nem serei o último a experimentar essa confusão de sentimentos sobre o novo. Tenho um olhar quase inocente sobre o mundo virtual, assim como a criança experimentando o frescor e o estranhamento dos objetos a sua volta. Tentativa e erro, cair e levantar, cair novamente e de pé no mesmo instante! O medo do novo paralisa aqueles que não têm esta disposição de descobrir, conhecer, experimentar... é mais fácil caminhar por onde já estivemos, lidar com quem nos é familiar, apegar-se a conceitos herdados... Mas do que trata a vida? Fluxo? Impermanência? Morrer e nascer continuadamente? "Que a morte não me encontre um dia, solitário, sem ter feito o que eu devia!"