quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Notas de Viagem

Parc Estació del Nord , Barcelona , inverno de 2007
Um homem velho corre atrás de uma criança num espiral de árvores secas dentro do Parc Estació del Nord. O menino corre sorrindo num jogo de "gato e rato" com o senhor de cabelos cinzentos. Presumo , de longe , que o velho está dizendo: "Agora te pego...agora te pego"! A brincadeira torna-se cada vez mais prazerosa , o riso transforma-se em gargalhada. O velho alcança a criança como também um dia aqueles que vivenciaram a infância chegarão na velhice. Os dois caminham agora lado a lado em minha direção. O senhor percebeu que eu os estava fotografando, são neto e avô. O velho puxa conversa..."De donde eres"? "Brasil"!? "Mira, este caballero es de un país muy grande"! - explica para o neto que está olhando de baixo para cima com uma expressão de curiosidade no rostinho suado. Conversamos por alguns instantes. O neto estava visitando o avô em Barcelona, os dois são judeus, o pequenino mora em Tel Aviv, cabelos cinzentos é professor de artes em uma escola da cidade. Trocamos sorrisos e palavras amistosas, e assim como se aproximaram também se afastaram... alegres! Observo os dois se distanciando e penso que as fases extremas de uma vida - infância e velhice – deveriam caminhar juntas, de mãos dadas e sorrindo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Linhas tênues em minha mão

Uma linha tênue separa a vida da morte e a arrogância da autoconfiança. A arrogância não percebe a linha pois olha de cima para baixo, quando deveria olhar para dentro. A autoconfiança tem discernimento e dá rumo ao traçado de sua própria linha. Uma linha tênue separa a vida da morte e a esperança da ilusão. Quando nossos sonhos permanecem sonhos a linha se evapora deixando no presente um gosto amargo de ilusão e uma esperança sem futuro Uma linha tênue separa a vida da morte e a individualidade do egoísmo. O egoísta não se da conta da linha e tropeça no traçado de outros egos. A individualidade floresce quando percebe o emaranhado de interesses que se contrapõem sem levar em conta o coletivo. Uma linha tênue separa a vida da morte e a segurança da acomodação. A acomodação nunca se indaga, com medo de perceber como é frágil a segurança que ela julga ter.

sábado, 20 de setembro de 2008

20 de Setembro

O silêncio era completo. O vento agitava as bandeiras, os cabelos, as crinas dos cavalos.
- São sem número as injustiças feitas pelo governo: seu despotismo é o mais atroz. E sofreremos calados tanta infâmia? Não!
As lanças mais uma vez subiram aos céus. - Nossos compatriotas , os rio–grandenses , estão dispostos como nós a não sofrer por mais tempo a prepotência de um governo tirano. Arbitrário e cruel, como o atual. Em todos ao ângulos da província não soa outro eco que independência, República ,Liberdade ou Morte!
Nova aclamação sobe das tropas . Os cavalos escarvam o chão
- Este eco majestoso que tão constantemente repetis, como uma parte deste solo de homens livres , me faz declarar que proclamamos nossa independência provincial, para o que nos dão bastante direito nossos trabalhos pela liberdade e o triunfo que ontem obtivestes sobre estes miseráveis escravos do poder absoluto!
A pausa foi preenchida pelo vento assobiando no pampa.
- Camaradas – A voz de Joaquim Pedro agora estava deformada pela emoção- Nós , que compomos a primeira brigada do Exercito liberal, devemos ser os primeiros a proclamar , como proclamamos , a independência desta província , a qual fica desligada das demais do Império e forma um estado livre e independente , com o título de República Rio–Grandense, e cujo o manifesto às nações civilizadas se fará competentemente.
Um murmúrio percorreu a tropa.
- Camaradas! – Joaquim Pedro desembainhou a espada . Gritemos pela primeira vez : Viva a República Rio-Grandense! Viva a Independência! Viva o exército Republicano Rio-Grandense!
As aclamações sobem novamente. Os vivas se repetem. Os cavalos empinam, relincham, sentem a tensão no ar.

Trecho do livro "Os varões assinalados" de meu conterrâneo Tabajara Ruas

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Simplicidade

Simplicidade do Lat. simplicitates. f., qualidade do que é simples; modéstia; naturalidade; candura; ingenuidade; credulidade.
Se quiser encontrar um exemplo para seguir, deve procurá-lo entre gente simples e humilde. Só existe verdadeira grandeza entre aqueles que não se exibem e não se compreendem como grandes
Leon Tolstoi Leio em um jornal a notícia de uma cerimônia de casamento "extremamente simples". Nesta festa realizada no Country club , foram servidos Tranche (?!) de salmão e crosta de gergelim(?!) melado de laranja e mousseline (?!) de mandioquinha e filé de rês e risoto de aspargos. A noiva trouxe um "tecido simples" de Dubai para confeccionar seu vestido com um "simplíssimo" estilista e a mãe da noiva comprou um simplório vestido- em tons de cobre! – na cidade de Paris. Qual é o significado da palavra simplicidade para a colunista que escreveu a matéria ? Será que em nosso País a simplicidade tornou-se relativa?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Meu povo

"Sou sempre aquilo que fui, fui sempre aquilo que sou,
Porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou,
Sou o braseiro que ficou e aceso permaneceu,
Sou o Gaúcho que cresceu junto aos fortins de
combate... e já estava tomando mate quando
a pátria amanheceu"
Jaime Caetano Braun

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Beleza americana

" Existe tanta beleza no mundo , às vezes parece que meu coração não vai suportar! "
Em Beleza Americana as aparências enganam, nada é o que parece ser." Olhe bem de perto" - sugere o seu cartaz. O filme não deve ser visto diretamente , não é uma estória individual é uma história coletiva. É a autocrítica de uma sociedade envenenada pelo supérfluo, como se um sofá italiano fosse mais caro que a retomada do desejo em uma relação falida. American beauty é um tipo de rosa produzida nos EUA para consumo, ela não possui espinhos e também não tem cheiro. A rosa - onipresente em todo o filme - é a metáfora de uma beleza aparente, porém falsa. As pessoas vivem sob o mesmo teto fingindo uma harmonia que não possuem. Elas se perderam delas mesmas...não sabem mais quem são. Lester Burham desconfia que perdeu alguma coisa no caminho e sonha em tocar novamente a felicidade. A lembrança do sorriso espontâneo da sua mulher , um banho de chuva inesperado, a contemplação do céu estrelado com o corpo estendido sobre a relva... " Vocês não sabem do que estou falando? Um dia saberão! " Este é o pronunciamento final de Lester.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

1 minuto de Silêncio

Um minuto de silêncio pelas vítimas do 11 de Setembro...
Quantas eternidades de Silêncio pelas vítimas da Águia Yankee ??
" A opressão jamais indaga na sua ambição mesquinha !"
Jaime Caetano Braun

domingo, 7 de setembro de 2008

As cores de Gaudí

Parc Guell, Barcelona
" Gaudí detestava a monocromia ; achava que era contranatura . A natureza - como muitas vezes pregava! - não mostra em nenhuma parte monocromia ou homocromia perfeita. Havia sempre um contraste de cores mais ou menos nítido. Para Gaudí , que , ao longo da vida , se sentia cada vez mais atraído pela natureza , sua mestra , resultava daí, e justamente para o arquiteto, a necessidade de executar todos os elementos da arquitetura, inteira ou pelo menos parcialmente, em cores". Antoni Gaudí i Cornet viveria em um mundo cinza se não fosse o auxílio de alguns mecenas que se encantaram pela sua miríade de cores e mescla de estilos arquitetônicos. Para os padrões estéticos de sua época - e talvez ainda hoje – Gaudí era um exagero!
Todos os que ousaram colorir nosso universo escuro com " algo " além do convencional foram considerados loucos por seus contemporâneos. Na verdade tal desprezo é uma miopia , é a incompreensão dos medíocres confrontados com as matizes da mente de um Gênio.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Imensidões

Suiça, dezembro de 2007
Grande seria minha frustração se não existissem imensidões para tornar pequeno os anseios que me aprisionam enquanto corre o cotidiano. Num espaço grandioso me desprendo do concreto e do sentimento que separa de mim este imenso mundo estendido perante meus olhos.