quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O discurso pós jogos olímpicos


Quando se encerrarem os jogos olímpicos e a participação brasileira for- mais uma vez!- criticada pelo fraco desempenho evidenciado por um quadro de medalhas que não se detêm em subjetividades contextuais, é fundamental estar atento ao discurso que sucedera o insucesso. Nossas autoridades políticas, esportivas e midiáticas convocarão especialistas e ex-atletas para mais uma análise “profunda” do óbvio ululante. Qualificação técnica de treinadores e atletas brasileiros; análise psicológica de atletas que sucumbem à pressão da sombra projetada pelas imensas expectativas de medalhas improváveis; trabalho de base; apoio ao esporte inclusivo; massificação, etc. Os temas são bem conhecidos e soam como Déjà vu. Embora ainda necessitemos deste discurso como forma de expiação pelos pecados do descaso esportivo é bom lembrar que Eduardo Galeano já escreveu que teoria e prática são duas velhas senhoras que se cumprimentam... Porém nunca se encontram! No caso do esporte brasileiro nada pode ser mais ilustrativo. No que se refere à qualificação dos atletas e técnicos brasileiros parece que nossos dirigentes esportivos já encontraram a solução; a importação de treinadores estrangeiros e a naturalização de atletas de outros países. Ironias a parte o distanciamento emocional e o conhecimento especializado destes profissionais estrangeiros talvez realmente possa melhorar o desempenho em algumas modalidades que nosso país não possui tradição, no entanto esta medida coloca em dúvida a capacidade de desenvolvimento técnico e psicológico de atletas e treinadores nativos, o que de certa forma nos faz reviver o “complexo de vira latas” cunhado por Nelson Rodrigues. Tal medida evidencia também uma preocupação somente com o topo da pirâmide enquanto nossa base permanece com uma estrutura frágil e inconsistente. Se nossos profissionais do esporte são incapazes para o alto nível que lhes proporcionem bons alicerces para então julgar o seu valor. A palavra massificação também deve reverberar nas mesas redondas e ainda assim nossos esportes continuarão a serem praticados em clubes, que são centros de excelência e não espaços públicos e escolares de divulgação e fomento. A massificação encontra nas praças, centros comunitários e quadras colegiais um terreno fértil para qualquer modalidade, porém ainda é muito cedo para a prática especializada desenvolvida nos clubes, estão ai os playgrounds americanos e os campos de várzea do futebol brasileiro como exemplo de prática informal não especializada que logra entranhar-se na cultura de um povo. Quem quer colher bons frutos deve plantar muitas sementes nos mais variados espaços, e - o mais importante!-  não selecioná-las antes do tempo. Repetidas vezes com base nos maus resultados obtidos- que a realidade insiste em nos jogar na cara- almejamos transformações significativas, porém se apenas analisarmos as causas sem uma mudança efetiva na nossa prática... Os resultados não se alteram! “Saber e não fazer ainda não é saber”, sentencia de maneira simples e direta um provérbio Zen.