sábado, 29 de novembro de 2008

O Dia de Hoje

Não há passado e nem futuro, a vida é feita essencialmente de dias. Alguns são bonitos , outros são cinzas mas eles se sucedem infinitamente até o dia"D"...morrer! Seria interessante se tivéssemos nascido com um "prazo de validade". Saberíamos aonde terminariam os nossos dias, a data exata, o último amanhecer, o derradeiro por do sol. Mas se soubéssemos de antemão o dia final, como viveríamos os dias que nos foram dados? A antecipação do fim com hora marcada seria uma benção ou um desespero? Caminharíamos até o dia "D" serenos ou amargurados? Acredito que algumas pessoas correriam desesperadas atrás dos prazeres, afim de provar tudo o que os sentidos nos proporcionam, outras talvez, investiriam em deixar um legado de boas ações e a memória de um nome correto. Mas quem estaria lá, no tal dia? Seria um dia festivo ou um dia triste? O dia vai chegar, com certeza, mas não sabemos quando e isto é uma benção para o dia de hoje!

Van Gogh - Uma pintura de marginal

Quatro tios e um irmão se dedicavam ao comércio de obras de arte,mas ele só conseguiu vender um quadro, um único, em toda a sua vida.Por admiração ou lástima , a irmã de um amigo pagou quatrocentos francos por um óleo, O vinhedo vermelho, pintado em Arles. Mais de um século depois,suas obras são notícia nas páginas financeiras de jornais que ele jamais leu, são as pinturas mais cotadas nas galerias de arte onde nunca entrou, as mais vistas em museus que ignoravam a sua existência e as mais admiradas nas academias que lhe conselharam a se dedicar a outra coisa. Agora Van Gogh decora restaurantes que lhe negariam comida, consultórios de médicos que o trancariam num manicómio e escritórios de advogados que o meteriam na prisão
Texto do Livro "Espelhos" de Eduardo Galeano, comprovando a "tese" que nossos grandes gênios foram marginalizados por medíocres de visão limitada. O irônico é que os medíocres venceram, e hoje ganham dinheiro cultuando gênios que morreram amargurados.

sábado, 22 de novembro de 2008

Xilogravura - comercial da natura

Literatura de cordel

Ariano Suassuna - A pedra preciosa

Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa 16 de Junho de 1927 ) é um dramaturgo, romancista e poeta brasileiro. Ariano Suassuna é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, autor dos célebres auto da compadecida e pedra do reino, um defensor militante da cultura do Nordeste. È um dos fundadores do movimento Armorial. O Movimento Armorial, é uma iniciativa artística que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música , dança , literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões. Uma grande importância é dada aos folhetos do romanceiro popular nordestino, a chamada Literatura de cordel, por achar que neles se encontra a fonte de uma arte e uma literatura que expressa as aspirações e o espírito do povo brasileiro, além de reunir três formas de arte: as narrativas de sua poesia, a xilogravura, que ilustra suas capas e a música, através do canto dos seus versos, acompanhada por viola ou rabeca. Este velhinho emociona as platéias com suas histórias e estórias contadas nas suas “aulas espetáculos” pelo Brasil a fora. Provavelmente ele continuaria um ilustre desconhecido se suas peças o Auto da compadecida e a Pedra do reino não chegassem ao “Canhão Global”. Mesmo assim a maioria dos brasileiros desconhece a trajetória e a luta de Ariano, Uma verdadeira pedra preciosa de nosso reino

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Futebol ao sol e à sombra

Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador de futebol.
Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia:
de dia era o pior perna de pau que já passou pelos campos do meu país.
Como torcedor, também deixava muito a desejar. Juan Alberto Schiaffino e
Julio César Abbadie jogavam no Peñarol, o time inimigo. Como bom torcedor
do Nacional, eu fazia o possível para odiá-los. Mas Pepe Schiaffino, com suas
jogadas magistrais, armava o jogo do seu time como se estivesse lá na torre
mais alta do estádio, vendo o campo inteiro, e Pardo Abbadie deslizava a bola
sobre a linha branca da lateral e corria com botas de sete léguas, gingando, sem
tocar na bola nem nos rivais: eu não tinha saída a não ser admirá-los. Chegava
até sentir vontade de aplaudi-los. Os anos se passaram, e com o tempo acabei
assumindo minha identidade: não passo de um mendigo do bom futebol. Ando
pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico:
- Uma linda jogada, pelo amor de Deus!
E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre - sem me importar com
o clube ou o país que o oferece.
Texto de abertura do livro "Futebol ao sol e à sombra" de Eduardo Galeano.
O autor justifica o escrito considerando e descrevendo uma epopéia do futebol
mundial... sem nação, cor ou credo definidos. Um grande Livro!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Os quatro elementos

A mente é levada por pernas de passo lento sem destino, descendo o caminho trilhado por poucos os olhos percebem a fogueira da praia como o elemento que faltava. O ir e vir do mar são ouvidos como ecos do infinito, a mente é cercada por solidão e eternidade, e então ela se cala... Sem saber para onde o vento levou o amanhã e atrás de que pedra repousa o passado, a mente está nas mãos de Deus, complementando os elementos ela não existe mais, simplesmente compõe o todo. Ela não existe mais...é felicidade, amor, beleza , Luz do fogo e do céu.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Há muito tempo que ando...

Há muito tempo que ando nas ruas de um porto não muito alegre e que no entanto me traz encantos e um pôr de sol me traduz em versos De seguir livre muitos caminhos arando terras provando vinhos, de ter idéias de liberdade e ver amor em todas idades. Música - Horizontes Intérpretes - Vitor Ramil e Angela Jobim

Uruguaiana...Feliz tu nascestes...

Uruguaiana feliz tu nascestes a beira de um rio sorrindo ao luar. Uruguaiana cidade alegria ouve a melodia deste meu cantar. É um canto modesto, mas que é um manifesto do meu coração Cidade fronteira que es toda coberta de um céu cor de anil , tens a honra mais bela de ser sentinela do nosso Brasil. Hino de Uruguaiana , intérprete - Bebeto Alves

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Se Deus fosse uma cidade...

..Se Deus fosse uma cidade era o Rio de Janeiro mas forte do que o sol. Abre os braços prá ver, deixa a moça convencer, desistir de ser solteiro. Eu vou rezar prá Yemanjá porque de amar não vou mais morrer Vou me perder nas suas curvas acordar com a mente turva tal a sua realeza o meu Rio de Janeiro, carioca sem pudor , nascer de um sol Arpoador. Beijo na boca de cidade, você é minha real grandeza que se esconde atrás do morro e desponta para o mar... prá ver , ti ver e fazer sonhar. Intérprete - Falcão

Sensibilidade

Enquanto vagamos sonâmbulos pelo mundo existem pequenos milagres acontecendo diante de nossos olhos insensíveis Para muitos o vento é somente transtorno, um saco plástico é apenas sujeira, assim como as folhas que caem colorindo o concreto. O que foi feito da sensibilidade que nos foi dada? Nunca mais veremos os fenômenos que nos cercam com olhos de criança admirada? Quando algumas pessoas sensíveis percebem aquilo que a maioria não enxerga elas vivem dentro de uma grande solidão. São mendigos suplicando compreensão , tentando conduzir pela mão as pessoas a um mundo perdido, o mundo da contemplação, o universo que esquecemos por causa de nossos pensamentos auto referentes. É preciso lembrar todos os dias que a beleza existe e ela é tanta que as vezes nosso coração parece não suportar

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Teoria da relatividade

No princípio havia um homem sério e ele disse aos demais que tudo era a lei . Dizia ele também que falava em nome de Deus. Com este homem não aprendemos muita coisa, somente constatamos que, invariavelmente , a mulher do próximo é mais interessante que a nossa. Então , logo depois surgiu um jovem cabeludo falando de paz e amor, declarando ser Rei e filho de alguém importante. Todos ficaram preocupados e mesmo o rapaz dizendo que seu reino não era deste mundo ninguém gosta de ouvir verdades , ainda mais vindas de um filho de marceneiro. Acabou crucificado por confiar no nosso amor. Passamos séculos fingindo hipocritamente que obedecíamos o primeiro homem e passamos a idolatrar o jovem cabeludo...aquele que nós matamos! Como as idéias de culpa e amor não alteraram em nada a humanidade, uma voz perigosa apareceu exclamando que tudo era o capital e estávamos escravizados por ele. Este homem queria justiça e igualdade, mas sua revolução acabou construindo um muro entre as pessoas. Do lado de lá ou do lado de cá do muro, todos inconscientemente são impulsionados pelo sexo...lembram da mulher do próximo? Estes sonhos e desejos vieram a tona revelados por um psicanalista , que ao longo de sua carreira afirmou que tudo era sexo! Enquanto burlávamos a lei em nome da "mais valia" e falávamos de amor sem colocá-lo em prática, o sexo era o caminho mais curto para preencher o vazio do cotidiano. Os tempos mudaram, mas o homem é basicamente o mesmo. Continuamos em busca da verdade. Qual destes homens históricos disse a verdade? Talvez a resposta esteja na loucura de um cientista, que provocando colocou a língua para fora e sentenciou: "tudo é relativo!!" O ser humano é aquilo que pensa em relação a lei , ao amor, dinheiro e sexo.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Enterrem meu coração na curva do rio

“Caía o crepúsculo quando a coluna passou pela última elevação e começou a descer o declive rumo ao riacho chamado Wounded Knee. A poeira invernal e os minúsculos cristais de gelo dançando à luz agonizante , acrescentavam uma qualidade sobrenatural à paisagem sombria. Em alguma parte das proximidades desse riacho gelado jazia o coração de Cavalo Doido num lugar secreto, e os dançarinos fantasmas acreditavam que seu espírito sem corpo esperava impacientemente pela nova terra que certamente viria com a primeira grama verde da primavera.” Trecho do livro de Dee Brow ; Enterrem meu coração na curva do rio Resposta do chefe Seattle à proposta do presidente dos Estados Unidos para comprar suas terras em 1854 “Se nós vendermos nossa terra , vós deveis lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e também vossos. E vós deveis dar aos rios a ternura que mostrais a um irmão. Sabemos que o homem branco não entende nossos costumes . Um pedaço de terra , para ele , é igual ao pedaço de terra vizinho, pois é um estranho que chega ,às escuras, e se apossa da terra de quem tem necessidade. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e uma vez conquistada , o homem branco vai mais longe. Seu apetite arrasará a terra e não deixará nela mais que um deserto.” “O que é o homem sem os animais? Se os animais desaparecerem , o homem morrerá dentro de uma grande solidão. Ensinai também a vossos filhos aquilo que ensinaremos aos nossos: que a terra é nossa mãe. Dizei a eles que a respeitem , pois tudo que acontecer à terra acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no chão , eles cospem sobre eles mesmos. Ao menos sabemos isto: a terra não é do homem ; o homem pertence à terra. Todas as coisas são dependentes. Não foi o homem que teceu a teia de sua vida, ele não passa de um fio dessa teia. Tudo que fizer para essa teia estará fazendo a si mesmo.” Parece mentira que o homem branco “civilizado” pudesse encontrar no meio das planícies e lugares ermos e selvagens uma raça de homens com grande poder de expressão poética. Os povos nativos que habitavam a terra e dela viviam - antes da “civilização” chegar até eles trazendo a cruz e a espada- compreendiam a natureza numa relação de interdependência que parece descabida na nossa ótica de conquistas e “progressos”. Nossa ambição mesquinha dizimou covardemente culturas inteiras em nome do comércio e de valores hipócritas, e , ainda hoje, continuamos desprezando os remanescentes destas sociedades primitivas... porém sábias!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

El viaje del "chê"

" Yo escuchaba chapotear en el barco los pies decalzos y presentía los rostros anochecidos de hambre. Mi corazón fue un péndolo entre ella y la calle. Yo no sé con qué fuerza me libré de sus ojos, me zafé de sus brazos. Ella quedó nublando de lágrimas su angustia tras de la lluvia y el cristal, pero incapaz para gritarme: ¡ Espérame, yo me marcho contigo!" Miguel Otero Silva

El Viaje

O instinto é coletivo meu irmão

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Notas de Viagem

Parc Estació del Nord , Barcelona , inverno de 2007
Um homem velho corre atrás de uma criança num espiral de árvores secas dentro do Parc Estació del Nord. O menino corre sorrindo num jogo de "gato e rato" com o senhor de cabelos cinzentos. Presumo , de longe , que o velho está dizendo: "Agora te pego...agora te pego"! A brincadeira torna-se cada vez mais prazerosa , o riso transforma-se em gargalhada. O velho alcança a criança como também um dia aqueles que vivenciaram a infância chegarão na velhice. Os dois caminham agora lado a lado em minha direção. O senhor percebeu que eu os estava fotografando, são neto e avô. O velho puxa conversa..."De donde eres"? "Brasil"!? "Mira, este caballero es de un país muy grande"! - explica para o neto que está olhando de baixo para cima com uma expressão de curiosidade no rostinho suado. Conversamos por alguns instantes. O neto estava visitando o avô em Barcelona, os dois são judeus, o pequenino mora em Tel Aviv, cabelos cinzentos é professor de artes em uma escola da cidade. Trocamos sorrisos e palavras amistosas, e assim como se aproximaram também se afastaram... alegres! Observo os dois se distanciando e penso que as fases extremas de uma vida - infância e velhice – deveriam caminhar juntas, de mãos dadas e sorrindo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Linhas tênues em minha mão

Uma linha tênue separa a vida da morte e a arrogância da autoconfiança. A arrogância não percebe a linha pois olha de cima para baixo, quando deveria olhar para dentro. A autoconfiança tem discernimento e dá rumo ao traçado de sua própria linha. Uma linha tênue separa a vida da morte e a esperança da ilusão. Quando nossos sonhos permanecem sonhos a linha se evapora deixando no presente um gosto amargo de ilusão e uma esperança sem futuro Uma linha tênue separa a vida da morte e a individualidade do egoísmo. O egoísta não se da conta da linha e tropeça no traçado de outros egos. A individualidade floresce quando percebe o emaranhado de interesses que se contrapõem sem levar em conta o coletivo. Uma linha tênue separa a vida da morte e a segurança da acomodação. A acomodação nunca se indaga, com medo de perceber como é frágil a segurança que ela julga ter.

sábado, 20 de setembro de 2008

20 de Setembro

O silêncio era completo. O vento agitava as bandeiras, os cabelos, as crinas dos cavalos.
- São sem número as injustiças feitas pelo governo: seu despotismo é o mais atroz. E sofreremos calados tanta infâmia? Não!
As lanças mais uma vez subiram aos céus. - Nossos compatriotas , os rio–grandenses , estão dispostos como nós a não sofrer por mais tempo a prepotência de um governo tirano. Arbitrário e cruel, como o atual. Em todos ao ângulos da província não soa outro eco que independência, República ,Liberdade ou Morte!
Nova aclamação sobe das tropas . Os cavalos escarvam o chão
- Este eco majestoso que tão constantemente repetis, como uma parte deste solo de homens livres , me faz declarar que proclamamos nossa independência provincial, para o que nos dão bastante direito nossos trabalhos pela liberdade e o triunfo que ontem obtivestes sobre estes miseráveis escravos do poder absoluto!
A pausa foi preenchida pelo vento assobiando no pampa.
- Camaradas – A voz de Joaquim Pedro agora estava deformada pela emoção- Nós , que compomos a primeira brigada do Exercito liberal, devemos ser os primeiros a proclamar , como proclamamos , a independência desta província , a qual fica desligada das demais do Império e forma um estado livre e independente , com o título de República Rio–Grandense, e cujo o manifesto às nações civilizadas se fará competentemente.
Um murmúrio percorreu a tropa.
- Camaradas! – Joaquim Pedro desembainhou a espada . Gritemos pela primeira vez : Viva a República Rio-Grandense! Viva a Independência! Viva o exército Republicano Rio-Grandense!
As aclamações sobem novamente. Os vivas se repetem. Os cavalos empinam, relincham, sentem a tensão no ar.

Trecho do livro "Os varões assinalados" de meu conterrâneo Tabajara Ruas

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Simplicidade

Simplicidade do Lat. simplicitates. f., qualidade do que é simples; modéstia; naturalidade; candura; ingenuidade; credulidade.
Se quiser encontrar um exemplo para seguir, deve procurá-lo entre gente simples e humilde. Só existe verdadeira grandeza entre aqueles que não se exibem e não se compreendem como grandes
Leon Tolstoi Leio em um jornal a notícia de uma cerimônia de casamento "extremamente simples". Nesta festa realizada no Country club , foram servidos Tranche (?!) de salmão e crosta de gergelim(?!) melado de laranja e mousseline (?!) de mandioquinha e filé de rês e risoto de aspargos. A noiva trouxe um "tecido simples" de Dubai para confeccionar seu vestido com um "simplíssimo" estilista e a mãe da noiva comprou um simplório vestido- em tons de cobre! – na cidade de Paris. Qual é o significado da palavra simplicidade para a colunista que escreveu a matéria ? Será que em nosso País a simplicidade tornou-se relativa?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Meu povo

"Sou sempre aquilo que fui, fui sempre aquilo que sou,
Porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou,
Sou o braseiro que ficou e aceso permaneceu,
Sou o Gaúcho que cresceu junto aos fortins de
combate... e já estava tomando mate quando
a pátria amanheceu"
Jaime Caetano Braun

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Beleza americana

" Existe tanta beleza no mundo , às vezes parece que meu coração não vai suportar! "
Em Beleza Americana as aparências enganam, nada é o que parece ser." Olhe bem de perto" - sugere o seu cartaz. O filme não deve ser visto diretamente , não é uma estória individual é uma história coletiva. É a autocrítica de uma sociedade envenenada pelo supérfluo, como se um sofá italiano fosse mais caro que a retomada do desejo em uma relação falida. American beauty é um tipo de rosa produzida nos EUA para consumo, ela não possui espinhos e também não tem cheiro. A rosa - onipresente em todo o filme - é a metáfora de uma beleza aparente, porém falsa. As pessoas vivem sob o mesmo teto fingindo uma harmonia que não possuem. Elas se perderam delas mesmas...não sabem mais quem são. Lester Burham desconfia que perdeu alguma coisa no caminho e sonha em tocar novamente a felicidade. A lembrança do sorriso espontâneo da sua mulher , um banho de chuva inesperado, a contemplação do céu estrelado com o corpo estendido sobre a relva... " Vocês não sabem do que estou falando? Um dia saberão! " Este é o pronunciamento final de Lester.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

1 minuto de Silêncio

Um minuto de silêncio pelas vítimas do 11 de Setembro...
Quantas eternidades de Silêncio pelas vítimas da Águia Yankee ??
" A opressão jamais indaga na sua ambição mesquinha !"
Jaime Caetano Braun

domingo, 7 de setembro de 2008

As cores de Gaudí

Parc Guell, Barcelona
" Gaudí detestava a monocromia ; achava que era contranatura . A natureza - como muitas vezes pregava! - não mostra em nenhuma parte monocromia ou homocromia perfeita. Havia sempre um contraste de cores mais ou menos nítido. Para Gaudí , que , ao longo da vida , se sentia cada vez mais atraído pela natureza , sua mestra , resultava daí, e justamente para o arquiteto, a necessidade de executar todos os elementos da arquitetura, inteira ou pelo menos parcialmente, em cores". Antoni Gaudí i Cornet viveria em um mundo cinza se não fosse o auxílio de alguns mecenas que se encantaram pela sua miríade de cores e mescla de estilos arquitetônicos. Para os padrões estéticos de sua época - e talvez ainda hoje – Gaudí era um exagero!
Todos os que ousaram colorir nosso universo escuro com " algo " além do convencional foram considerados loucos por seus contemporâneos. Na verdade tal desprezo é uma miopia , é a incompreensão dos medíocres confrontados com as matizes da mente de um Gênio.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Imensidões

Suiça, dezembro de 2007
Grande seria minha frustração se não existissem imensidões para tornar pequeno os anseios que me aprisionam enquanto corre o cotidiano. Num espaço grandioso me desprendo do concreto e do sentimento que separa de mim este imenso mundo estendido perante meus olhos.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

InFâNcIA

Sagrado é o amanhecer da minha vida. Tenho alegria de viver sem a ânsia pretensiosa de alcançar felicidade . Minha originalidade é ser destituído de rancores e tristezas duradouras, tudo é efêmero e divertidamente intenso. Minha insegurança é graciosa Meus olhos são curiosos e minhas perguntas infinitas. Não tenho compreensão , só energia trasbordante e sorriso único. Minhas fantasias se perderam no tempo, estou aprisionada na mente de um adulto!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Como é...

Como é incompleto aquele que se considera homem, sem autoconhecimento Como é triste envelhecer sem vislumbrar a grandiosidade da vida e o ridículo da frivolidade Como é inseguro aquele que agride por medo , sem se dar conta do temor que dele se apossa . Como é falso o homem que projeta aos outros uma imagem super valorizada de si mesmo. Como é covarde aquele que se esconde atrás de desculpas e exime-se de culpa. Como é vazio aquele que se preenche de ilusões !

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Estrelas


" o povo de meu pai diz que
quando nasceram o sol e
sua irmã lua a mãe deles
morreu. O sol deu a terra
o corpo dela , do qual brotou
a vida. De seu peito tirou as
estrelas e espalhou-as pela
noite , para se lembrar da
Alma dela"


Fala do filme O último dos moicanos.

domingo, 20 de julho de 2008

Em busca do Santo Gol


Joga a bola menino!
Dá pontapés certeiros
Na empanturrada imagem
Deste mundo.
Traça no firmameto
Órbitas arbitrárias
Onde os astros fingidos
Percam a majestade.
Brinca, na eterna idade
Que eu já tive,
E perdi,
Quando, por imprudência,
Saltei o risco branco da inocência

E cresci.



Miguel Torga




Corre a bola e sua trajetória desvia o mundo para a suspensão do tempo, os devaneios infantis deslizam por campos imaginários. Nossos garotos correm atrás da bola para criar histórias de triunfos em terras distantes... onde finda o arco íris talvez se encontre o pote de ouro.
Percebem a bola como uma fresta que empresta luz ao seu mundo escuro. Eles sonham com multidões delirantes, hipnotizadas , boquiabertas perante sua magia, são reis negros ainda meninos deserdados da sorte, de pés descalços , esfolados, desdentados e sorridentes em busca do Santo Gol.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Rumi


Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.
Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.
Cada átomoFeliz ou miserável,
Gira apaixonado
Rumi

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A soma de todos os medos



A Maioria de nós pensa que a coragem é a ausência do medo. Um corajoso é alguém que não sente receio de nada, enfrenta tudo como um herói mitológico e a insegurança não encontra morada na sua postura altiva perante aquilo que se apresenta como desafio. Mas o homem é sempre menor que o mito!O desconhecimento dos medos é tão imprudente quanto atirar-se ao calor da luta insanamente. A coragem é o enfrentamento do medo, não a negação de sua existência. O destemido observa da rocha precipitada sobre o penhasco de seus temores, e então jogasse ao mar de seus medos para evitar a paralisia que dele emana.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

" Socando a face de Deus"



O roteirista e ator Chazz Palminteri revela em uma entrevista que não realizar o próprio potencial é como " dar um soco na cara de Deus".
No livro completo da filosofia o autor James Mannion referindo-se a cultura nativa norte americana escreve: " Atingir seu potencial humano máximo é nossa tarefa e o único pecado verdadeiro cometido contra Deus acontece se falharmos em usar os dons que recebemos de Deus para nosso próprio bem e para a comunidade." Mas o que Deus tem haver com uma carreira de sucesso? Quase nada na verdade! Nascemos com um talento que é intuitivo, prazeroso e possibilita o desenvolvimento da criatividade, mas isso não se refere diretamente ao sucesso financeiro. " Dar um soco na cara de Deus" é vender nosso sonho para atender expectativas que não são nossas , é deixar de se conhecer para lapidar seus aspectos positivos, é representar um personagem e esquecer-se de quem é. Agredir a face de Deus é ter medo do irreal em busca de segurança e carregar a frustração como uma sombra até o fim de seus dias.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Debate por um alojamento



Em alguns templos Zen japoneses, existe uma antiga tradição: se um monge errante conseguir vencer um dos monges residentes num debate sobre budismo, poderá pernoitar no templo. Caso contrário terá de ir embora.
Havia um templo assim no norte do Japão dirigido por dois irmãos.
O mais velho era muito culto e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho.
Uma noite, um monge errante foi pedir alojamento a eles.
O irmão mais velho estava muito cansado, pois havia estudado por muitas horas; assim, pediu ao mais novo que fosse debater:
Solicite que o dialogo seja em silêncio, disse o mais velho.
Pouco depois, o viajante voltou e disse ao irmão mais velho:
Que homem maravilhoso é seu irmão.
Venceu brilhantemente o debate.
Assim, devo ir-me embora. Boa noite.
Antes de partir, disse o ancião,
por favor, conte-me como foi o dialogo.
Bem, disse o viajante,
primeiramente, ergui um dedo simbolizando Buda.
Seu irmão levantou dois dedos simbolizando Buda e seus ensinamentos.
Então, ergui três dedos para representar Buda, seus ensinamentos e seus discípulos.
Daí, seu irmão sacudiu o punho cerrado em minha frente, indicando que todos os três vem de uma única realização.
Com isso, o viajante se foi.
Pouco depois, veio o irmão mais novo parecendo muito aborrecido.
Soube que você venceu o debate, falou o mais velho.
Que nada , disse o mais novo,
esse viajante é um homem muito rude.
É?, disse o mais velho,
Conte-me qual foi o tema do debate.
Ora!, exclamou o mais novo,
no momento em que ele me viu, levantou um dedo insultando-me, indicando que tenho apenas um olho.
Mas por ser ele um estranho, achei que deveria ser polido.
Ergui dois dedos congratulando-o por ter dois olhos.
Nisto, o miserável mal-educado levantou três dedos para mostrar que nos dois juntos tínhamos três olhos.
Então, fiquei louco e ameacei- lhe dar um soco no nariz - assim ele se foi.
O irmão mais velho riu.
Quando debatemos geralmente não queremos escutar, fingimos estar atentos mas tudo que ouvimos é turvado por pré-conceitos estabelecidos em relação a nosso interlocutor. Ser receptivo não é fácil, a interpretação do que escutamos é uma projeção de nós mesmos , o mundo externo se transforma em um espelho onde refletimos a raiva e a violência que nos domina internamente.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O viajante


Podemos viajar por todo o mundo em busca do que é belo, mas se já não o trouxermos conosco, nunca o encontraremos.

Ralph Waldo Emerson




Me identifico com o viajante e não com o turista, me parece que o primeiro busca algo que ele não sabe definir, é um perdido atrás de pessoas e momentos que se identifiquem com ele, sai em busca do nada mas a espera de tudo! Enquanto o segundo busca um rastro de imagens que reafirma a importância que ele julga ter perante os outros. O turista se decepciona porque a expectativa não se ajusta a realidade, ele carrega consigo a frieza e o silêncio de monumentos mortos registrados em imagens por obrigação e vaidade. Ele esteve lá mas não trouxe nada de significativo, somente fotos e quinquilharias. O viajante sempre retorna mais "rico", pois já partiu cheio de nada, é um observador de si mesmo perante as situações cambiantes , reconhece o humano por onde passa, porque este não tem cultura e desconhece fronteiras. Ao perder a identidade o viajante fortalece a si próprio, seu "estado bruto" encontrará beleza porque dela já esta trasbordante!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Pensar por si mesmo



"Pois o homem que pensa por si mesmo se familiariza com as autoridades por suas opiniões somente depois que as adquiriu e meramente como uma confirmação delas , enquanto o filósofo de livro começa com as suas autoridades , e dessa forma constrói suas opiniões juntando as opiniões dos outros: a sua mente , então, se compara à do primeiro como um autômato se compara a um homem vivo"



Arthur Schopenhauer

quinta-feira, 17 de abril de 2008

" Minha natureza "



Certa vez, um escorpião aproximou-se de um sapo que estava na beira de um rio.
O escorpião vinha fazer um pedido:
"Sapinho, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?"

O sapo respondeu: "Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e vou afundar."Disse o escorpião: "Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos." Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio. No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo. Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou:
"Por quê? Por quê?" E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza."


Existem pessoas que justificam os seus equívocos repetitivos mencionando a sua "natureza" como algo imutável e tal como o escorpião da fábula afundam num rio de acontecimentos inevitáveis. Na verdade para essas pessoas não existe distinção entre homem e "natureza", o que transforma a personalidade em um cárcere. Este tipo de pensamento determinista acorrenta o ser humano a comportamentos egoístas, tudo é valido para atender os desejos que a "minha natureza" impõe, afinal de contas nascemos assim e morreremos da mesma forma. Seres humanos são distintos dos animais e esta diferença consiste na escolha de mudança, pessoas que não mudam já estão mortas de algum jeito, pois a lei básica da vida é crescimento e fluxo constante, temos que transcender a natureza egoísta! Se somos hoje a mesma pessoa de 20 anos atrás alguma coisa está errada na nossa verdadeira natureza!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dois lobos



Dizem os índios que dentro do coração de um homem existem dois lobos que estão brigando constantemente do nascimento até a morte. Um lobo representa a luz e o outro a escuridão, as sombras do nosso eu! Praticamente todas as culturas mencionam metaforicamente esta batalha interna do bem contra o mal e o conflito que divide o homem, mas me parece sábia e original a resposta dos índios quando perguntados sobre qual lobo triunfará no final ; "Aquele que alimentamos com mais freqüência!"

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Distanciamento


Aproxime qualquer objeto dos olhos, tão perto que tal objeto encoste no seu nariz, e você terá uma visão limitada daquilo que escolheu para ver. Afaste este objeto e verá todos os detalhes e nuances do que tem em mãos. A proximidade emocional de uma pessoa em determinada situação provoca um olhar distorcido em relação ao problema, da mesma forma um especialista em determinada área é ludibriado quando domina um conhecimento e não consegue dar “um passo atrás” para olhar o saber em perspectiva.

Into the wild


A busca de " si mesmo" é suprimida e muitas vezes até ridicularizada, mas sem ela nada mais vale a pena. É preferível viver pouco sendo você mesmo do que durar uma eternidade sem se conhecer!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sócrates


A revolução consiste no entendimento do processo da civilização, a mentalidade que nos domina é uma herança perversa onde os revolucionários ,hoje exaltados, amargaram a incompreensão de seus contemporâneos, as instituições estabelecidas nunca deixaram de excluir os “marginais” que ameaçavam o poder. Ironicamente estes contestadores e críticos do seu próprio tempo são canonizados pela mesma estrutura social que os condenou anteriormente. Os faróis que iluminaram a antiguidade permanecem isolados em uma ilha e os Fariseus de outrora continuam onde sempre estiveram...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Sobre Homens e ovelhas


Uma fábula nos conta que um grande mágico reuniu ovelhas e jogou sobre elas uma magnífica ilusão; nenhuma ovelha se reconheceria como tal, desta forma, alterando a percepção em relação a sua própria natureza as ovelhas poderiam olhar um imenso rebanho a sua volta ignorando que dele faziam parte. E assim sendo o Mago recolhia uma ovelha por dia para abater e comer enquanto o resto do rebanho permanecia imóvel e silencioso. Desconhecendo a sua condição as ovelhas iam sendo abatidas uma a uma sem mostrar desespero, pois na mente delas existia a distinção do alheio ao qual não pertenciam. Existe alguma semelhança entre ovelhas e homens? Émile Durkhein sugere que;

“Os valores e as crenças mantidos por uma cultura conduzem o comportamento de seus membros sem que eles saibam”.

A sensação de distanciamento nos mantém interessados na sociedade como um “objeto exterior” a nossa personalidade, porém esta distinção é visão ilusória e ingênua. Tal como as ovelhas somos manipulados e hipnotizados por consumo, valores superficiais e busca constante de afirmação da personalidade. A contradição é que se o indivíduo não reconhecer a sua condição de pertencer ao rebanho, principalmente no que se refere a aspectos negativos de uma sociedade, essa mesma personalidade não se desenvolverá de forma saudável, condenando o homem a repetir os padrões de comportamento que lhe roubam a felicidade.