quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Futebol ao sol e à sombra

Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador de futebol.
Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia:
de dia era o pior perna de pau que já passou pelos campos do meu país.
Como torcedor, também deixava muito a desejar. Juan Alberto Schiaffino e
Julio César Abbadie jogavam no Peñarol, o time inimigo. Como bom torcedor
do Nacional, eu fazia o possível para odiá-los. Mas Pepe Schiaffino, com suas
jogadas magistrais, armava o jogo do seu time como se estivesse lá na torre
mais alta do estádio, vendo o campo inteiro, e Pardo Abbadie deslizava a bola
sobre a linha branca da lateral e corria com botas de sete léguas, gingando, sem
tocar na bola nem nos rivais: eu não tinha saída a não ser admirá-los. Chegava
até sentir vontade de aplaudi-los. Os anos se passaram, e com o tempo acabei
assumindo minha identidade: não passo de um mendigo do bom futebol. Ando
pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico:
- Uma linda jogada, pelo amor de Deus!
E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre - sem me importar com
o clube ou o país que o oferece.
Texto de abertura do livro "Futebol ao sol e à sombra" de Eduardo Galeano.
O autor justifica o escrito considerando e descrevendo uma epopéia do futebol
mundial... sem nação, cor ou credo definidos. Um grande Livro!

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