terça-feira, 30 de outubro de 2007

Payada - Jayme Caetano Braun


...Se a História não os condena, a mancha nunca se apaga!A opressão jamais indaga na sua ambição mesquinha.Era meu tudo o que tinha, era meu tudo o que havia,e eu morri porque dizia que aquela terra era minha


Mas o eterno não morre, porque permaneço vivo...No lampejo primitivo de cada fato que ocorre o meu sangue rubro corre na velha raça gaudéria, corcoveando em cada artéria pela miscigenação, na bárbara transfusão com os andarengos da Ibéria...


Fui sempre aquilo que sou, sou sempre aquilo que fui, porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou...Sou o brasedo que ficou e aceso permaneceu, sou o gaúcho que cresceu junto aos fortins de combate e já estava tomando mate quando a pátria amanheceu!


E assim, crescendo ao relento, criado longe do pai, junto ao mar doce - o Uruguai -, o rio do meu nascimento, soldado sem regimento no quartel da imensidade...Um dia me deu vontade, deixei crescer toda a crina e me amasiei com uma china que chamei de Liberdade!



Esta é uma parte do poema PAYADA de JAYME CAETANO BRAUN o maior poeta que o Rio Grande do Sul conheceu, este poema fala da formação do fronteiro, o GAÚCHO autêntico que sofreu com as invasões e guerras mas que " aceso permaneceu"!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A Casa Branca



Dizem os sábios que nunca retornamos ao mesmo lugar, nunca cruzamos o mesmo rio e jamais seremos hoje o que fomos ontem, mas as memórias alimentam minha alma... Então fujo em pensamento para os campos da fronteira, lá longe, onde se encontra a Casa branca da minha infância. Recordo dos tempos em que observei atentamente o que me cercava na vida simples da estância, lembro que a cozinha era domínio feminino, um ventre acolhendo os de casa e os de fora. Ali se encontrava o coração e, é claro, o estômago da Casa branca. Panelas penduradas em cima do fogão preto, uma braçada de lenha no canto e a mesa de madeira comprida que era quase um improviso. O crepitar da lenha e o ronco da panela de ferro faziam aromas ganharem caminhos, e todos se achegavam de mansinho como quem pede licença e se desculpa pelo instinto. Quando o povo sentava-se à mesa grande o cheiro precedia o gosto e o silêncio era rompido por murmúrios de satisfação. A comida era farta e bem temperada, e bota manjerona, salsa, cebola, e alho nisso! Lembranças são associações estimuladas pelos sentidos e de tudo que a criança vê, ouve, toca, cheira e prova o gosto, resta apenas aquilo que lhe fascina. Até hoje procuro a receita de tamanha harmonia servida em pratos de simplicidade, mas meus sentidos envelheceram com o tempo e só tenho essas recordações, limpas e claras como uma casa branca em minha mente.



Escrevi este texto para a revista de um amigo. A publicação se chamava SABOR. A Casa Branca a que me refiro é a Estância de uma tia que fica no município de Alegrete, este local foi para mim uma referência de recordações e imagens no coração do pampa Gaúcho.