segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A Casa Branca



Dizem os sábios que nunca retornamos ao mesmo lugar, nunca cruzamos o mesmo rio e jamais seremos hoje o que fomos ontem, mas as memórias alimentam minha alma... Então fujo em pensamento para os campos da fronteira, lá longe, onde se encontra a Casa branca da minha infância. Recordo dos tempos em que observei atentamente o que me cercava na vida simples da estância, lembro que a cozinha era domínio feminino, um ventre acolhendo os de casa e os de fora. Ali se encontrava o coração e, é claro, o estômago da Casa branca. Panelas penduradas em cima do fogão preto, uma braçada de lenha no canto e a mesa de madeira comprida que era quase um improviso. O crepitar da lenha e o ronco da panela de ferro faziam aromas ganharem caminhos, e todos se achegavam de mansinho como quem pede licença e se desculpa pelo instinto. Quando o povo sentava-se à mesa grande o cheiro precedia o gosto e o silêncio era rompido por murmúrios de satisfação. A comida era farta e bem temperada, e bota manjerona, salsa, cebola, e alho nisso! Lembranças são associações estimuladas pelos sentidos e de tudo que a criança vê, ouve, toca, cheira e prova o gosto, resta apenas aquilo que lhe fascina. Até hoje procuro a receita de tamanha harmonia servida em pratos de simplicidade, mas meus sentidos envelheceram com o tempo e só tenho essas recordações, limpas e claras como uma casa branca em minha mente.



Escrevi este texto para a revista de um amigo. A publicação se chamava SABOR. A Casa Branca a que me refiro é a Estância de uma tia que fica no município de Alegrete, este local foi para mim uma referência de recordações e imagens no coração do pampa Gaúcho.

Um comentário:

gerson poersch disse...

Tchê Lutero!!!Agora tu tens alguem pra ler tuas escribas..belo relato,gostei dos detalhes;naõ sou crítico de texto,mas de cozinha e comida é comigo mesmo!!!KKKK....gérsinho cabeça chata