quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O que você vai ser quando você crescer?


Algumas vezes escuto pais dizendo que ter filhos é a coisa mais importante na vida; a noção de prioridade modifica-se, o centro do mundo já não é mais o próprio umbigo, os sacrifícios pela prole revelam o instinto primitivo de proteção em todos os níveis. O ser se multiplica; é um pedaço de nós que engatinha, herdando características físicas e também psicológicas. Ainda não tenho filhos, portanto, esse é um terreno que desconheço. Apenas estudo um mapa das relações que se desenvolvem entre pais e filhos, graças à minha experiência como professor de iniciação esportiva e ao meu distanciamento para observar o que minha própria família esperava de mim. Não se discute que o cuidado físico é indispensável para o desenvolvimento saudável dos pequeninos, todos precisam de atenção e vigilância. O velho problema é quando os “zelosos” pais tem a pretensão de saber o que é “melhor” para seus rebentos. Passada a fase de proteção física iniciam os estímulos relativos a “quem” os pais acham que seu filho deveria ser. Invariavelmente, os filhos não concordam com os valores dos pais e nem com o caminho que lhes é imposto, como se fosse um roteiro para o sucesso. Já dizia Krishnamurti: “... Em geral não amamos nossos filhos; temos ambições com referência a eles”. E Howard Gardner também advertiu: “Muitos de nós somos, em geral, narcisistas: ou esperamos que nossos filhos façam apenas o que fizemos ou insistimos em que façam o que não pudemos fazer. Esses dois caminhos são destrutivos, pois significam a substituição da vontade da criança em crescimento pela vontade dos pais”. Escolher o caminho dos outros é optar pela frustração e muitas crianças são esmagadas pelo suposto “discernimento” dos pais e da sociedade como um todo. Professores, pais, avós, parentes, sabem o que é melhor para a criança, só que esquecem de perguntar para a protagonista onde ela gostaria de atuar. O desenvolvimento das aptidões de uma criança deveria basear-se nos interesses da mesma. Como diz no livro “O espírito criativo”: “... Os pais precisam expor seus filhos a um amplo espectro de materiais e experiências a fim de que suas tendências naturais possam aflorar, seja em que área for”.
A idéia é simples e até lógica, mas em um mundo pragmático e competitivo é inevitável que a vontade de uma criança se dobre aos interesses diversos. O pequeno, inseguro, hesita em dar continuidade ao que lhe dá prazer, pois não tem independência intelectual nem econômica e, além do mais, herda alguns resquícios de valores objetivos. Para isto Krishnamurti nos abre os olhos: “O que precisamos compreender é que não somos apenas condicionados pelo ambiente, mas que somos o ambiente, que não estamos separados dele. Nossos pensamentos e reações são condicionados pelos valores que a sociedade da qual somos uma parte, nos impôs”.

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