sexta-feira, 15 de junho de 2012

Entre dos Aguas


Paco de Lucia, Montreaux 1978

Desde sua afinação em sopros de vida a sequencia nos oferece suspiros de dor espalhando respingos d água que se repetem na promessa de um leito caudaloso e imprevisível, o rio segue seu curso encontrando acordes nervosos como rochas que se interpõem para enfatizar sua  fluidez e leveza. A natureza fluida choca-se com outro volume de água e esta em sua superfície nos parece distinta, no entanto, vem ao nosso encontro como complemento de transparência e beleza.  Enfim diluída em seu elemento a melodia não se aprisiona, segue caótica, ondulando entre remansos e desníveis; então repentinamente se detém para escutar seu próprio ruído... Evoca a natureza sensível dos que acompanham suas imprevisíveis curvas de tristeza e alegria compartilhando transcendência e finalmente despencando  numa brutal cascata de regozijo estético.  

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Degraus desaparecidos


Em teoria estaríamos preparados para exercer nossa profissão após anos de estudos que privilegiaram a memória e desprezaram o entendimento,  pois na prática a informação transmitida não é conhecimento efetivo, no entanto nosso sistema educacional perpetua um único método de ensino, ou seja, a memorização de conteúdos compartimentados, estanques, isolados, que parecem existir em um universo abstrato e distante anos luz daquilo que nos cerca e experimentamos como realidade. Pautar o caminho do conhecimento desde o primário até a universidade na informação memorizada e descontextualizada é como subirmos uma escada aonde os degraus transpostos vão desaparecendo à medida que colocamos os pés no próximo. Quando chegamos ao topo da escada percebemos o abismo de esquecimento e desconhecimento, mas, intimamente envergonhados, silenciamos como se os degraus desaparecidos ainda estivessem lá. Em teoria sabemos muito, na prática esquecemos tudo! A memória acumulada das frias informações que nos são impostas consequentemente nos tornam medrosos- tímidos e apologéticos, diria Emerson -, papagaios que repetem o som emitido por uma autoridade, sem nenhuma capacidade para desenvolver a inteligência intuitiva da experiência direta. Aquele que tem a sensibilidade de enxergar os conceitos como mera confirmação do que foi vivido pelo observador detém o gênio, enquanto o que busca ajustar a vida aos conceitos adquiridos é um impostor inconsciente - Schopenhauer firmou abaixo desta minha impressão sobre “o que é” e dele obtive o reforço do que observei anteriormente. Pois me parece fundamental que possamos “perceber” o conhecimento e por fim praticar o conhecimento com a riqueza de suas conexões. São as conexões dos diversos campos de conhecimento que enriquecem e dão sentido ao intelecto. Tornando ágil a percepção da correlação entre saberes aparentemente distintos crescemos como pensadores e, por fim, podemos propor o inédito e o criativo.  Nosso sistema educacional se sustenta na excessiva teorização, no isolamento estéril dos saberes, na memorização fria da informação (Informação não é conhecimento!), na superestimada autoridade científica e a consequente desautorização da percepção individual transformada em conhecimento... Como se tal experiência do indivíduo  não fosse excelente ponto de partida para a aquisição do conhecimento efetivo. Sendo assim, nesta estrutura educativa atual, somos forçados a acumular informação descontextualizada e impedidos de construir conexões; somos tolhidos em nossa liberdade intelectual e desencorajados em nossa curiosidade o que torna a aprendizagem uma experiência traumática e desinteressante.  

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Um jogo, uma promessa


No que se refere à decisão da LNB de realizar a finalíssima do NBB em um jogo único, me parece que temos que esperar algumas temporadas para avaliar se foi uma decisão acertada. O principal motivo desta alteração na forma da disputa– que anteriormente se jogava em sistema de Play-off – dizem os “entendidos” é a visibilidade que a transmissão em Tv aberta poderia proporcionar aos patrocinadores e suas marcas. Em um pensamento linear seria assim; quanto mais televisão aberta e exposição da marca dos patrocinadores mais patrocínio para as equipes nacionais o que significa mais dinheiro sendo injetado no, antes agonizante, basquete brasileiro. Se realmente os investimentos viessem seria fundamental para a viabilidade de vários projetos esportivos, no entanto esta desejável injeção de capital não é garantida; a ideia que uma transmissão em Tv aberta garante futuros incentivos é subjetiva e questionável, além do mais qualquer profissional de Marketing está ciente que o apoio financeiro a uma equipe de basquete tem prazo de validade e nem é preciso citar exemplos, pois todos sabem da natureza efêmera dos patrocínios esportivos. Quando a liga nacional de basquete se propõe a alterar a sua forma de disputa para atender uma possível visibilidade de marcas está abrindo um precedente perigoso porque se coloca na posição mais frágil de uma transação comercial, evidenciando que seu produto – no caso a modalidade basquete e a liga propriamente dita- ainda não estão bem acabados, ou não são fortes o suficiente para estar em condições de igualdade na busca da negociação que atenda igualmente os interesses das partes envolvidas. Mexer na essência da disputa, que é o equilíbrio e a certeza de que a melhor equipe será campeã, é, na minha visão, vender a alma ao diabo sem nenhuma garantia que ele vai cumprir a sua parte no acordo.  Quando David Stern conseguiu recuperar a NBA – Isto mesmo, a Liga americana já foi mal organizada e deficitária!- tratou de privilegiar o jogo equilibrado dando apoio às franquias para que seu produto fosse sólido e atrativo com a finalidade de captar parcerias de peso em pé de igualdade. A comparação talvez não seja valida porque envolve muitos fatores- econômicos, culturais, etc. – mas serve de exemplo para que possamos refletir um pouco... Vender um produto atendendo todas as exigências do comprador – alterando as próprias características essenciais do mesmo – é descaracterizar e desvalorizar tal mercadoria. Os jogadores e treinadores ,ao que parece, foram convencidos de que este prejuízo técnico representa retorno econômico garantido e divulgação da modalidade. Entendo que os jogadores e treinadores deveriam estar conscientes que são os principais atores neste espetáculo e suas opiniões não devem ser sacrificadas por promessas que podem não ser cumpridas, pois estão colocando em risco a sua representatividade. Veremos se este jogo único irá trazer o retorno esperado ou se os clubes continuarão andando em círculos e cantando aquela marchinha “Ei você ai, me dá um dinheiro ai, me dá um dinheiro ai...”.