segunda-feira, 11 de junho de 2012

Degraus desaparecidos


Em teoria estaríamos preparados para exercer nossa profissão após anos de estudos que privilegiaram a memória e desprezaram o entendimento,  pois na prática a informação transmitida não é conhecimento efetivo, no entanto nosso sistema educacional perpetua um único método de ensino, ou seja, a memorização de conteúdos compartimentados, estanques, isolados, que parecem existir em um universo abstrato e distante anos luz daquilo que nos cerca e experimentamos como realidade. Pautar o caminho do conhecimento desde o primário até a universidade na informação memorizada e descontextualizada é como subirmos uma escada aonde os degraus transpostos vão desaparecendo à medida que colocamos os pés no próximo. Quando chegamos ao topo da escada percebemos o abismo de esquecimento e desconhecimento, mas, intimamente envergonhados, silenciamos como se os degraus desaparecidos ainda estivessem lá. Em teoria sabemos muito, na prática esquecemos tudo! A memória acumulada das frias informações que nos são impostas consequentemente nos tornam medrosos- tímidos e apologéticos, diria Emerson -, papagaios que repetem o som emitido por uma autoridade, sem nenhuma capacidade para desenvolver a inteligência intuitiva da experiência direta. Aquele que tem a sensibilidade de enxergar os conceitos como mera confirmação do que foi vivido pelo observador detém o gênio, enquanto o que busca ajustar a vida aos conceitos adquiridos é um impostor inconsciente - Schopenhauer firmou abaixo desta minha impressão sobre “o que é” e dele obtive o reforço do que observei anteriormente. Pois me parece fundamental que possamos “perceber” o conhecimento e por fim praticar o conhecimento com a riqueza de suas conexões. São as conexões dos diversos campos de conhecimento que enriquecem e dão sentido ao intelecto. Tornando ágil a percepção da correlação entre saberes aparentemente distintos crescemos como pensadores e, por fim, podemos propor o inédito e o criativo.  Nosso sistema educacional se sustenta na excessiva teorização, no isolamento estéril dos saberes, na memorização fria da informação (Informação não é conhecimento!), na superestimada autoridade científica e a consequente desautorização da percepção individual transformada em conhecimento... Como se tal experiência do indivíduo  não fosse excelente ponto de partida para a aquisição do conhecimento efetivo. Sendo assim, nesta estrutura educativa atual, somos forçados a acumular informação descontextualizada e impedidos de construir conexões; somos tolhidos em nossa liberdade intelectual e desencorajados em nossa curiosidade o que torna a aprendizagem uma experiência traumática e desinteressante.  

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