Quando
se encerrarem os jogos olímpicos e a participação brasileira for- mais uma
vez!- criticada pelo fraco desempenho evidenciado
por um quadro de medalhas que não se detêm em subjetividades contextuais, é
fundamental estar atento ao discurso que sucedera o insucesso. Nossas
autoridades políticas, esportivas e midiáticas convocarão especialistas e ex-atletas
para mais uma análise “profunda” do óbvio ululante. Qualificação técnica de
treinadores e atletas brasileiros; análise psicológica de atletas que sucumbem à
pressão da sombra projetada pelas imensas expectativas de medalhas improváveis;
trabalho de base; apoio ao esporte inclusivo; massificação, etc. Os temas são
bem conhecidos e soam como Déjà vu. Embora ainda necessitemos deste discurso
como forma de expiação pelos pecados do descaso esportivo é bom lembrar que Eduardo
Galeano já escreveu que teoria e prática são duas velhas senhoras que se cumprimentam...
Porém nunca se encontram! No caso do esporte brasileiro nada pode ser mais
ilustrativo. No que se refere à qualificação dos atletas e técnicos brasileiros
parece que nossos dirigentes esportivos já encontraram a solução; a importação
de treinadores estrangeiros e a naturalização de atletas de outros países. Ironias
a parte o distanciamento emocional e o conhecimento especializado destes profissionais
estrangeiros talvez realmente possa melhorar o desempenho em algumas
modalidades que nosso país não possui tradição, no entanto esta medida coloca
em dúvida a capacidade de desenvolvimento técnico e psicológico de atletas e
treinadores nativos, o que de certa forma nos faz reviver o “complexo de vira
latas” cunhado por Nelson Rodrigues. Tal medida evidencia também uma
preocupação somente com o topo da pirâmide enquanto nossa base permanece com
uma estrutura frágil e inconsistente. Se nossos profissionais do esporte são
incapazes para o alto nível que lhes proporcionem bons alicerces para então
julgar o seu valor. A palavra massificação também deve reverberar nas mesas
redondas e ainda assim nossos esportes continuarão a serem praticados em
clubes, que são centros de excelência e não espaços públicos e escolares de
divulgação e fomento. A massificação encontra nas praças, centros comunitários
e quadras colegiais um terreno fértil para qualquer modalidade, porém ainda é muito
cedo para a prática especializada desenvolvida nos clubes, estão ai os
playgrounds americanos e os campos de várzea do futebol brasileiro como exemplo
de prática informal não especializada que logra entranhar-se na cultura de um
povo. Quem quer colher bons frutos deve plantar muitas sementes nos mais
variados espaços, e - o mais importante!- não selecioná-las antes do tempo. Repetidas
vezes com base nos maus resultados obtidos- que a realidade insiste em nos
jogar na cara- almejamos transformações significativas, porém se apenas
analisarmos as causas sem uma mudança efetiva na nossa prática... Os resultados
não se alteram! “Saber e não fazer ainda não é saber”, sentencia de maneira
simples e direta um provérbio Zen.
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