segunda-feira, 21 de maio de 2012

Do livro "O código do talento" de Daniel Coyle



Ainda persiste em nossa mentalidade a concepção errônea de que o talento esportivo é um dom divino. É como se um raio de luz entrasse pela janela da maternidade e escolhe-se apenas uma entre tantas e esta criança seria abençoada com as habilidades necessárias para ser um gênio do esporte enquanto as demais seriam jogadas ao limbo da mediocridade. Em um vídeo chamado “Talvez seja minha culpa“ http://youtu.be/AcWqQbYqpGM, Michael Jordan nos esclarece algumas passagens de sua vida para desmistificarmos  esse toque do dedo de Deus. Na verdade a ciência - Essa estraga prazeres! - está empenhada em descobrir os segredos do talento em todas as áreas da atividade humana, e o esporte, como não poderia deixar de ser, é um dos principais âmbitos de investigação. No livro “O código do talento” somos apresentados a Mielina, um isolador neuronal - uma espécie de capa de borracha que reveste as fibras nervosas responsáveis pelos impulsos elétricos que determinam a aquisição das habilidades...Qualquer habilidade! Dan Coyle, o autor do livro, resume assim sua analogia elétrica: “A Mielina rodeia as fibras nervosas ( Responsáveis pela aquisição da habilidade) do mesmo modo que um isolamento de borracha envolve um fio de cobre: faz com que o sinal seja mais veloz e forte porque impede que escapem os impulsos elétricos” Quando acendemos nossos circuitos da maneira correta, nossa mielina responde cobrindo o circuito neuronal e acrescentando, em cada nova capa, um pouco mais de habilidade e velocidade. Quanto mais grossa é a capa da mielina, maior será a sua capacidade de isolamento, de forma que nossos movimentos e pensamentos se tornarão mais velozes e precisos.” Para enfim acelerar o processo e criarmos “capas mais grossas” de mielina necessitamos de três aspectos fundamentais que formarão o contexto adequado - o terreno fértil da onde teremos mais possibilidades de colher o potencial esportivo; São eles:
A Prática intensa:  Obviamente se refere ao  treinamento exaustivo , mas vai muito além disto; Primeiro consideramos o movimento como um todo, observamos uma paisagem desde uma colina, depois nos aproximamos e captamos todos os elementos que compõem a paisagem( O Movimento decomposto em detalhes) e finalmente trabalhamos com a velocidade – acelerando e diminuindo. A prática intensa confere ao erro um papel importantíssimo, é o velho conhecido; Tentar lentamente – falhar –tentar novamente - falhar – tentar novamente com atenção e afinco corrigindo pequenos detalhes. Até finalmente entrar na repetição, repetição e repetição da forma correta do movimento.
A ignição :  Neste aspecto é importante ressaltar que a pratica intensa acima descrita não é desenvolvida somente nas sessões de treinamento de basquete, por exemplo. Raramente nos empenhamos naquilo que não nos dá prazer. Para desenvolvermos uma habilidade ótima  necessitamos estar intimamente relacionados com ela, ou seja, o sacrifício da pratica intensa deve ser eclipsado pela paixão, dando a sensação de uma epifania enquanto tratamos de aperfeiçoar a técnica. A ignição é o motor humano da motivação, é o fogo primitivo inconsciente que se acende quando saímos correndo para gastar nossa energia em uma quadra de basquete. É fundamental, no entanto, que exista um ambiente instigante para que a fagulha se transforme em chama e se perpetue em busca de um objetivo maior, neste ponto a inspiração é sustentada também pelo espelho de nossos ídolos esportivos.
O Mestre ou treinador : Levando em consideração que a pratica intensa precisa da  ignição e que esta chama de motivação necessita estar acesa por anos a fio afim de lograr resultados de alto nível, o livro de Daniel Coyle nos alerta para a importância dos mestres instrutores, não como experts técnicos em suas áreas mas como “alquimistas” que mesclando os dois fundamentais aspectos anteriores conseguem extrair o máximo desempenho dos seu pupilos. Tais professores são camaleões do ensino/ aprendizagem que adaptam a mensagem conforme a personalidade do receptor, utilizando abordagens distintas estes grandes mestres ensinam aos seus alunos a serem pensadores independentes que tomando decisões a todo o momento podem superar os problemas que se apresentam. Eles se assemelham a diretores de peças teatrais que não interrompem constantemente o fluxo da atuação ou da aprendizagem e vão se retirando paulatinamente para trás das cortinas, abrindo mão do protagonismo em favor do talento vindouro.
É importante salientar que estes três aspectos fundamentais na busca do talento não são compartimentos estanques e que estão dispostos assim somente com a finalidade de uma melhor compreensão por parte de nossa limitada mentalidade cartesiana. Estes elementos são orgânicos e como tal atuam e interagem entre si.

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