Ainda persiste em nossa
mentalidade a concepção errônea de que o talento esportivo é um dom divino. É
como se um raio de luz entrasse pela janela da maternidade e escolhe-se apenas
uma entre tantas e esta criança seria abençoada com as habilidades necessárias
para ser um gênio do esporte enquanto as demais seriam jogadas ao limbo da
mediocridade. Em um vídeo chamado “Talvez seja minha culpa“ http://youtu.be/AcWqQbYqpGM,
Michael Jordan nos esclarece algumas
passagens de sua vida para desmistificarmos esse toque do dedo de Deus. Na verdade a
ciência - Essa estraga prazeres! - está empenhada em descobrir os segredos do
talento em todas as áreas da atividade humana, e o esporte, como não poderia
deixar de ser, é um dos principais âmbitos de investigação. No livro “O
código do talento” somos apresentados a Mielina, um isolador neuronal - uma
espécie de capa de borracha que reveste as fibras nervosas responsáveis pelos
impulsos elétricos que determinam a aquisição das habilidades...Qualquer
habilidade! Dan Coyle, o autor do
livro, resume assim sua analogia elétrica: “A Mielina rodeia as fibras nervosas
( Responsáveis pela aquisição da habilidade) do mesmo modo que um isolamento de
borracha envolve um fio de cobre: faz com que o sinal seja mais veloz e forte
porque impede que escapem os impulsos elétricos” Quando acendemos nossos
circuitos da maneira correta, nossa mielina responde cobrindo o circuito
neuronal e acrescentando, em cada nova capa, um pouco mais de habilidade e velocidade.
Quanto mais grossa é a capa da mielina, maior será a sua capacidade de
isolamento, de forma que nossos movimentos e pensamentos se tornarão mais
velozes e precisos.” Para enfim acelerar o processo e criarmos “capas
mais grossas” de mielina necessitamos de três aspectos fundamentais que
formarão o contexto adequado - o terreno fértil da onde teremos mais possibilidades
de colher o potencial esportivo; São eles:
A Prática intensa: Obviamente
se refere ao treinamento exaustivo , mas
vai muito além disto; Primeiro consideramos o movimento como um todo,
observamos uma paisagem desde uma colina, depois nos aproximamos e captamos
todos os elementos que compõem a paisagem( O Movimento decomposto em detalhes)
e finalmente trabalhamos com a velocidade – acelerando e diminuindo. A prática intensa
confere ao erro um papel importantíssimo, é o velho conhecido; Tentar
lentamente – falhar –tentar novamente - falhar – tentar novamente com atenção e
afinco corrigindo pequenos detalhes. Até finalmente entrar na repetição,
repetição e repetição da forma correta do movimento.
A ignição : Neste
aspecto é importante ressaltar que a pratica intensa acima descrita não é
desenvolvida somente nas sessões de treinamento de basquete, por exemplo. Raramente
nos empenhamos naquilo que não nos dá prazer. Para desenvolvermos uma
habilidade ótima necessitamos estar
intimamente relacionados com ela, ou seja, o sacrifício da pratica intensa deve
ser eclipsado pela paixão, dando a sensação de uma epifania enquanto tratamos
de aperfeiçoar a técnica. A ignição é o motor humano da motivação, é o fogo
primitivo inconsciente que se acende quando saímos correndo para gastar nossa
energia em uma quadra de basquete. É fundamental, no entanto, que exista um
ambiente instigante para que a fagulha se transforme em chama e se perpetue em
busca de um objetivo maior, neste ponto a inspiração é sustentada também pelo espelho
de nossos ídolos esportivos.
O Mestre ou treinador : Levando em consideração que a
pratica intensa precisa da ignição e que
esta chama de motivação necessita estar acesa por anos a fio afim de lograr
resultados de alto nível, o livro de Daniel Coyle nos alerta para a importância
dos mestres instrutores, não como experts técnicos em suas áreas mas como “alquimistas”
que mesclando os dois fundamentais aspectos anteriores conseguem extrair o
máximo desempenho dos seu pupilos. Tais professores são camaleões do ensino/
aprendizagem que adaptam a mensagem conforme a personalidade do receptor,
utilizando abordagens distintas estes grandes mestres ensinam aos seus alunos a
serem pensadores independentes que tomando decisões a todo o momento podem superar
os problemas que se apresentam. Eles se assemelham a diretores de peças
teatrais que não interrompem constantemente o fluxo da atuação ou da
aprendizagem e vão se retirando paulatinamente para trás das cortinas, abrindo
mão do protagonismo em favor do talento vindouro.
É importante salientar que estes três
aspectos fundamentais na busca do talento não são compartimentos estanques e
que estão dispostos assim somente com a finalidade de uma melhor compreensão
por parte de nossa limitada mentalidade cartesiana. Estes elementos são
orgânicos e como tal atuam e interagem entre si.